sábado, 29 de abril de 2006

A maçã

Num ambiente repleto de coisas falsas e de aparências enganosas, como distinguir o que é ruim?
Para Adão e Eva, essa tarefa foi bem mais simples: apenas um fruto era o fruto proibido. Mas no mundo em que somos como a Branca de Neve (ou pelo menos, temos o espírito), como saber qual a maçã do cesto está envenenada?
Tudo bem, talvez o problema maior nem seja a maçã, porque de vez em quando nós precisamos nos envenenar para adquirir alguma imunidade sobre alguns venenos. O problema maior é, pelo menos é o que me parece, ter a alma da Branca de Neve. Em um meio repleto de aparências, todas as maçãs parecem ter passado pelas mãos da Bruxa.
E não falo só das aparências externas: refiro-me a todas. Principalmente as internas. São estados que fingimos estar só para melhor passar. É fingir que tudo vai bem, quando na verdade não está (mesmo quando não sabemos os motivos para certos estados emocionais).
Mas, agora, isso não é o que mais me aflige. Fico aqui pensando na Branca de Neve e me pergunto se ela estava errada por esperar o Príncipe. Depois de morder a maçã envenenada, a moça deitou e esperou pelo Príncipe para acordá-la do feitiço. Duas pessoas boas e puras, que se completavam.
O único problema por esperar os príncipes atualmente é que, dificilmente, eles serão puros. Então, como duas pessoas “sujas” poderão dar início a um relacionamento (algo que, teoricamente, deve estar livre de impurezas)?

Fazer esse questionamento só me prova o quão idiota eu sou. Se definir como sujo é estar preso ao passado. Todos tiveram uma vida anterior, mas isso pouco importa. O que conta, de verdade, é aquilo que se fará. Não é que, de repente, a puta vai ser elevada à categoria de santa, porque nada é tão extremista assim, mas é aquela velha história: Todos os pecados serão perdoados, se você crer.

Aqui, basta você crer que as coisas podem dar certo. Acreditar nos sentimentos (por mais cafona que isso possa soar).

sábado, 22 de abril de 2006

Mais uma de indiferença...mas com uma ponta de esperança

Conversando com meu pai, na terça-feira, ele me falava de como as pessoas se julgam especiais. Cada um acredita ser infinitamente melhor do que o outro que está ao seu lado e, a partir daí, começam a esperar grandes coisas da vida e deles mesmos. E completou falando que é justamente daí que surgem as frustrações, porque, no final, se percebe que todos somos iguais.
Naquele momento, respondi: “É por isso que eu não espero nada da vida, deixo tudo correr naturalmente”. Depois, fiquei pensando na grande mentira que eu havia falado.
Já falei uma vez que não consigo viver sem esperar nada. Sempre estou à espera de algo. Talvez seja justamente por isso que eu esteja tão frustrado ultimamente: sempre espero algo dos outros, porque eu sempre procuro dar algo também.
Mas será que esperar algo dos outros só porque cedemos ou entregamos alguma coisa não é o mesmo que reduzir as relações cotidianas à simples trocas?
Atualmente, eu não me incomodo tanto com a indiferença dos outros. Estou mais preocupado com a minha indiferença em relação a mim mesmo. E isso tem me causado alguns problemas: não tenho mais interesse por coisas que eu adorava.
É como rever um amigo que te pergunta: “Como você está?”, e você responde: “Indo” ou “Bem”.
É estar bem pela simples ausência de outro sentimento; é ir só porque os outros que estão atrás estão te empurrando.
Não sinto nenhum orgulho em dizer isso, mas eu me tornei totalmente indiferente em relação a minha vida. Isso não significa que eu tenha pensamentos suicidas: pretendo continuar vivo, mesmo sendo esse zumbi no qual me tornei.
Pretendo continuar vivo pra, quem sabe, um dia constatar que a vida pode mudar completamente e de uma forma totalmente inesperada. E, por causa disso, vocês não podem dizer que eu perdi a esperança.

Mais uma de solidão

Conversando com o E. hoje pela manhã, na cantina, ele me pergunta onde estavam todos os outros. Respondi que, às segundas, eu assisto aula sozinho. “Você é muito corajoso. Eu, depois que me apego, só quero passar o tempo junto”. Como sempre, eu trago essas frases para a minha vida pessoal. Não em relação aos amigos, porque eu acho que, nesse aspecto, eu sempre fui meio distante: sempre fui amigo dos outros, mas nunca deixei ninguém chegar muito perto. Em relação à vida afetiva, não muda muito. Embora seja necessário duas pessoas, apenas uma (no caso, eu) senti o que se chama de paixão. Meus amores sempre foram exclusivos meus e nunca mútuos. Talvez seja por isso que eu não tema tanto essa solidão, porque sempre quando eu estive acompanhado, na verdade, eu estava só. Engraçado é escrever isso e não sentir pena de mim mesmo. Ou qualquer outro sentimento: simplesmente, me sinto indiferente. Nesse exato momento da minha vida, eu começo a achar a solidão um ótimo estado para se ficar. É o preço que se paga por algumas desilusões. Pelo menos por algum tempo, a solidão é necessária. Porque eu começo a acreditar que só assim você consegue se conhecer melhor. No meu caso, essa solidão é melhor ainda, porque eu sempre acreditei que a solução para todos os meus problemas estava no outro: por isso busquei tantas vezes, e quebrei a cara tantas outras. Eu não conhecia a mim mesmo. Existe um poema do Drummond que termina assim: “Restam outros sistemas fora do solar a col- onizar. Ao acabarem todos só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração experimentar colonizar civilizar humanizar o homem descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de con-viver.” E eu começo a perceber que o momento de solidão é propício a fazer isso. Sentar e ouvir os seus pensamentos e a sua consciência. Conhecer a si mesmo, para só então poder dar um passo pra fora.

Destino

Engraçado como a nossa vida é composta por acontecimentos e momentos tão diversos e marcantes. E depois de viver alguns desses momentos, eu me pergunto: Será que realmente tudo isso é por acaso? Será que tudo realmente é uma grande coincidência? Conversando com a A.P e o L. na parada de ônibus, sábado à noite, eles tentam me convencer de quem escolhe o seu destino é você mesmo, que nós temos controle sobre a nossa vida e que existem apenas coincidências. Já eu prefiro acreditar no destino e de que tudo acontece por alguma razão. “Mas acreditar nisso é uma visão muito determinista”. De certa forma, concordo com o A. quando ele diz isso. Talvez, nós realmente não sejamos fantoches programados. Mas a minha visão de destino não é a de que somos bonecos inanimados. Realmente acredito que temos um determinado controle sobre a nossa vida, mas existem coisas que vivemos que estão acima das nossas vontades. São certas situações e determinados momentos pelos quais passamos que já fazem parte da nossa vida muito antes de tomarmos consciência de qualquer coisa. Honestamente, não sei se conseguiria viver bem (ou, pelo menos, o mais próximo disso) acreditando que tudo acontece sem nenhum propósito. Imaginar uma vida cheia de acontecimentos vazios, sem significados, me parece extremamente triste. Prefiro acreditar que nada acontece por acaso. “Você acredita nisso por medo de se sentir dono da sua própria vida”. Não acredito que a minha covardia possa chegar a tal ponto. Mas a minha vida, até agora, está marcada por situações boas e ruins (que, dentro da minha visão pessimista, são a maioria) que seria quase loucura acreditar que elas ocorrem ao acaso. É reconfortante, pelo menos para mim, acreditar que existe um caminho já trilhado. Embora eu também acredite que, dentro desse caminho, sou eu quem escolhe quantos passos eu vou dar e a forma como essa estrada será percorrida. Mas o mais importante não é o final nem a forma como se percorre; mas sim, o percurso. Andar sobre trilhos ou por uma vereda, honestamente, pouco importa: aquilo que se vive é o mais importante.