sábado, 29 de outubro de 2005

Carta

Segundo meu dicionário, “relação” significa a convivência entre pessoas. Mas, na prática, o que podemos definir como relacionamento? Convivemos com diversos tipos de pessoas, e a grande maioria não afeta a nossa vida de forma direta. Mas, aquela minoria que realmente nos importa, nos afeta de uma forma que dificilmente conseguimos explicar.
Nesse exato momento, eu prefiro me referir aos relacionamentos amorosos. Para mim, é difícil perceber quando se inicia uma e, mais complicado ainda, perceber quando se termina. Quando uma amizade se transforma em namoro e quando um namoro se torna apenas amizade?
Exatamente agora, eu me encontro em um relacionamento. Mas mesmo ainda sendo o começo, eu sinto que o fim se aproxima. Não por falta de carinho, mas eu, que sempre fui um romântico desesperado, encontro dificuldades em expressar o que sinto.
Outra coisa que me leva a creditar no fim é a ausência de contato. Embora eu saiba que no mundo real as pessoas possuem compromissos, eu sinto dificuldades em manter um relacionamento que se baseie em conversas pro telefone e marcar encontros que se adaptem a uma grade pré-estabelecida. “Quando é mesmo a sua folga?”.
Tudo isso faz com que a grande novidade da minha vida se transforme em uma rotina tão programada que chega a assustar de tão exata. E eu sei que nesse ponto eu entro em contradição: uma vez cheguei a dizer que queria um relacionamento sem novidades ou surpresas.
E tudo isso porque eu ouvi um “Eu não estou feliz”. Embora a conversa não fosse sobre nós (mas sim sobre as perspectivas de trabalho), se torna quase impossível um inseguro não tomar essa frase como fonte de tortura.
Não que eu queira provas de amor a todo instante, mas é que, de vez em quando, eu preciso saber de certas coisas. Eu preciso ouvir certas palavras e sentir certos carinhos. Sou carente, e isso é algo que nunca neguei. Eu sempre digo o que sinto e algumas outras coisas que eu sei que irão agradar. Mas eu também preciso ouvir ou, pelo menos, perceber.
Caso contrário, eu me deito nessa cama e escrevo coisas desesperadas como essa carta.

sábado, 22 de outubro de 2005

O telefone e a Insegurança

Por que todos os relacionemos se parecem com um jogo? No início, sempre percebemos os esforços que são feitos para conquistar o outro. Mas, com o passar do tempo, percebemos que as situações vão mudando. São como pequenos jogos, com regras bastante difusas, que se iniciam para testar o amor do outro.
Ontem à noite, tentando ligar para conversar um pouco, escuto apenas aquela gravação perturbadora: “Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens...”. Como um bom garoto inseguro, me entrego á perguntas que dificilmente serão respondidas.
Uma das perguntas que mais me atormentam é: Por que a insegurança é um sentimento constante nos meus relacionamentos?
Fico me perguntando se o meu não é justamente me entregar precipitadamente, não deixando espaço para dúvidas e dando a certeza dos meus sentimentos. Mas, se isso for um erro, o que representará um acerto? Será que é preciso dissimular o sentimento para dar continuidade à relação?
Forçar as situações que mais me parecem eternos jogos de conquista não me parece o mais adequado a se fazer. Espera-se, de ambas as partes, sinceridade. Se um relacionamento deve se basear na cumplicidade, por que encobrir certos sentimentos?
Sei que a grande maioria dessas perguntas só serão respondidas depois de um certo tempo, mas também sei que muitas delas só surgem nos momentos de insegurança, e, por isso, jamais terão respostas.
Para mim, isso só demonstra o nível de paranóia ao qual eu me permito chegar. Afinal, tudo surgiu devido a um telefone desligado.
Mas a insegurança (não essa em um nível paranóico) pode ser algo absolutamente normal, pois sempre haverá o medo da perca.
Sim, sempre haverá esse medo. Mas, além de insegurança, também é preciso ter algumas certezas. E a primeira delas deveria ser a de amor-próprio. Porque, se há o medo da perca, é porque provavelmente já transferimos a nossa vida para o relacionamento. E isso não me parece nada sensato.
É claro que precisa haver uma entrega, mas isso não significa que ela precise ser uma doação completa.

Talvez eu deva aprender a controlar minha ansiedade. Mas até lá, eu vou aproveitar um pouco mais essa insegurança, porque talvez seja justamente ela que justifique tanto carinho. Porque, no final das contas, era só uma bateria descarregada.

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Ladainha

Engraçado perceber que depois de toda a ladainha, eu continuo me entregando às dúvidas. Se, por um lado, uma pequena certeza começa a nascer em mim; do outro, ela carrega consigo uma infinidade de pequenas dúvidas. E muitas delas nem deveriam existir, porque são meras alucinações da minha cabeça.
Mas, depois de algumas decepções, você se torna um pouco inseguro diante de novas experiências, porque não há quem nos garanta que tudo poderá ser diferente. Mas também não há quem nos dê a certeza de que será igual. Essa é uma dúvida que só acabará quando corrermos o risco de viver para comprovar qual das possibilidades irá acontecer.
“Quem tem medo do lobo mal?”
Não que esse sentimento seja ruim. Pelo contrário. Sentir toda essa felicidade é algo extremamente agradável. Pena que eu sou um garoto inseguro demais e que se deixa levar por esse medo inexplicável. Talvez não tão inexplicável assim, porque tudo o que se quer é manter a felicidade.
Correr o risco. Dar uma chance. Tentar ser feliz. Essas frases resumem bem o que devemos fazer. Mas não adianta repetirmos incansavelmente se, por trás dessa certeza dissimulada, ainda houver uma ponta de medo e insegurança.
Mas como nos livrarmos desse medo e dessa insegurança?
Talvez a solução não seja nos livrarmos do medo e da insegurança. Talvez esses sentimentos sejam necessários. O problema é quando você se entrega muito mais a eles do que à felicidade que se sente. O problema me parece justamente deixar a insegurança se sobrepor à alegria.
Sentir-me inseguro me parece absolutamente normal. Mas deixar de aproveitar essa oportunidade que me é dada, por conta do medo, isso sim me parece um erro.
Vou. Com toda a esperança e alegria que podem existir em mim. Mas vou sabendo que posso voltar e que posso sofrer. Embora não seja isso o que eu espere.

sábado, 8 de outubro de 2005

Azar

Hoje, logo quando acordei, quebrei um espelho. Se a história for verdadeira, terei sete anos do mais terrível azar. É bem verdade que eu não acredito em certas coisas. Mas, para certos assuntos, a sorte é extremamente necessária. Necessária sim, porque boa vontade e determinação não são suficientes para que algo aconteça. Em todos os assuntos, a combinação desses três elementos é fundamental. Mas é claro que existem as exceções.
Mas, nesse exato momento, não quero contar com as exceções. Viver e ter apenas uma pequena perspectiva, uma pequena crença não é nada bom. Digo isso por experiência própria. Seguir, achando que no meio da multidão existe uma exceção, é complicado. Complicado porque a multidão é grande demais e a minoria fica muito bem escondida. Difícil de ser achada.
Mas, por outro lado, vivemos nessa constante busca. E, em alguns momentos, essa busca me parece fazer muito mais sentido do que a finalidade: encontrar. Achar o que se procura nem sempre é a melhor parte. Mas se dedicar à busca, isso sim me parece prazesoro.
Embora, esse prazer também assuma uma característica de sofrimento. Quando não se encontra, a desilusão é tanta que se pensa em desistir. E, nesse instante, podemos nos culpar ou jogar toda a responsabilidade sobre os espelhos quebrados. Isso depende do nível de insanidade de cada um.
Então, qual seria a melhor saída? Tornar-se indiferente ou buscar incessantemente?
Tornar-se indiferente aos acontecimentos até pode ser a saída mais cômoda, mas, com certeza, a menos prazerosa. Acredito que nesse caso, a felicidade torna-se algo bonito apenas para ser visto, apreciado; e não vivido.
Já a busca incansável pode cansar. Mas, em compensação, quando se percebe uma pequena possibilidade de encontrar aquilo que se busca, a felicidade nos invade. Acompanhada de diversos outros sentimentos que, na minha opnião, só a tornam mais especial.
Isso é uma coisa que eu já repeti várias vezes, mas, para mim, é verdade. Eu prefiro acreditar em coisas incertas a me entregar a um ceticismo. Porque mesmo quebrando espelhos, o meu azar, no máximo, só vai durar sete anos.